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Acidentes envolvendo motocicletas são o maior desafio das autoridades de trânsito paulistanas

19.07.2012 - 14:30
  • Foto: Fabio Nassif

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“Tudo o que a gente consegue avançar em relação a outros envolvidos no trânsito estamos perdendo com os motociclistas”. A constatação é de Heloísa Helena de Mello Martins, chefe da Assessoria da Superintendência de Segurança de Trânsito da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET-SP), e foi feita durante o Congresso Internacional de Trânsito – Ideias que salvam vidas, promovido pelo Detran/RS.

Na sua conferência, Heloísa tratou dos graves riscos sofridos pelos motociclistas que circulam pelas ruas da cidade de São Paulo. A especialista iniciou sua exposição traçando um panorama do trânsito paulistano. Segundo dados do CET, atualmente há na capital paulista 7,2 milhões de veículos – destes, 929 mil são motocicletas. São 23,5 milhões de viagens por dia: 31% a pé, 24% de ônibus, 10% de trem e metrô, e 30% de transporte individual. “São Paulo é uma cidade que foi moldada ao longo dos anos por uma ideologia rodoviarista, que privilegia a circulação de automóveis”, explicou.

Por essa razão, esclareceu Heloísa, a cidade sofre, em média, com 90 quilômetros de congestionamento no pico da manhã e 130 quilômetros no pico da tarde. Quem usa o transporte coletivo leva 65 minutos para chegar ao trabalho, enquanto quem utiliza o carro gasta trinta minutos. “Diante desse quadro de deterioração da mobilidade urbana, a motocicleta aparece como solução individual de mobilidade, para tornar possível a vida dos trabalhadores ou até como instrumento de trabalho. A motocicleta tem uma agilidade maior que a do veículo de quatro rodas e consegue driblar os congestionamentos.”

O resultado, segundo a especialista, foi um aumento de 388% das viagens em motos entre 1997 e 2007 e de 77% da frota dos veículos de duas rodas entre 2005 e 2010. O número de acidentes e mortes envolvendo motociclistas também aumentou: dados do CET mostram que entre 2005 e 2011 o crescimento foi de 48%; no ano passado, esse grupo representou 37,5% do total de óbitos no trânsito paulistano, ficando atrás apenas dos pedestres (45,2%).

Heloísa afirmou que se por um lado a motocicleta fragiliza seu condutor – pois este não possui proteção além da roupa e do capacete –, por outro ele tem um comportamento “evidentemente transgressor, pois tira proveito da agilidade que o veículo permite e faz manobras arriscadas, atravessa canteiros centrais, andam na contramão, etc”.

Entre as causas mais comuns de acidentes fatais com motos, segundo perícia realizada na CET e citada pela especialista, estão a condução entre os veículos de quatro rodas, o excesso de velocidade e o desrespeito ao sinal vermelho. Esses fatores respondem por 69% do total das causas.

Ainda de acordo com dados citados por Heloísa, 75% dos motociclistas mortos no trânsito são homens entre 18 e 30 anos, 55% tem o nível médio completo e 70% ganha entre um e cinco salários mínimos. Pesquisa Ibope de 2006 realizada a pedido da CET indicou que 43% dos proprietários de motocicletas as utilizavam para o deslocamento entre casa e trabalho, enquanto 31% par o lazer e 25% para serviços de motofrete. “Portanto, quando falamos de motociclistas, falamos de todo mundo. Não adianta muito criar programas voltados para a especialização dos motofretistas, pois eles representam apenas uma parte dos usuários, embora se exponham mais aos riscos, por circularem mais”, analisou a especialista.

Entre as iniciativas da CET que vêm dando certo, Heloísa destacou a fiscalização da infração das velocidades-limites por parte dos motociclistas e a proibição da circulação de veículos de duas rodas na pista expressa da Marginal Tietê – cuja velocidade máxima é de 90 km/h –, o que contribuiu para reduzir o número de acidentes nessa via em 35% no período de um ano.

Por outro lado, a adoção de faixas exclusivas para a circulação de motocicletas em duas avenidas da cidade produziu o efeito contrário: a ocorrência de acidentes foi triplicada, embora a aceitação por partes dos motociclistas tenha sido alta. Segundo Heloísa, isso aconteceu porque os pedestres não se acostumaram com as mudanças – atravessam a pista sem ver as motos – e porque muitos automóveis invadem o local reservado aos veículos de duas rodas.

A especialista da CET terminou sua exposição fazendo um apelo para que outras esferas do poder público se juntem à empresa de trânsito no combate aos acidentes. “O passo seguinte é agirmos juntos com, por exemplo, as Secretarias da Saúde e da Educação. Mas, principalmente, é necessária a coordenação da alta administração. Para alcançarmos mais resultados, precisamos de uma diretriz municipal, de um esforço centralizado do Estado de São Paulo. O degrau que temos de conseguir subir é esse esforço de convencimento da necessidade de atuar em conjunto em prol da harmonia no transito.”

Igor Ojeda
de Porto Alegre