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Informações sobre fatores de risco devem ser aprofundadas, defende pesquisadora

19.07.2012 - 15:00
  • Foto: Fabio Nassif

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A construção de bancos de dados confiáveis e o aperfeiçoamento da análise sobre os fatores de risco em acidentes de trânsito são os principais desafios para o projeto “Vida no Trânsito”, em implantação inicial em cinco capitais brasileiras. A avaliação é da economista Tanara Sousa, que coordena uma equipe de pesquisadores que acompanham a implantação do projeto em Palmas e Teresina. Para a pesquisadora, o detalhamento sobre os fatores de risco, principalmente aqueles relacionados ao consumo de álcool e à velocidade, vão permitir o direcionamento eficaz das políticas públicas.

Doutora em Economia Aplicada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com ênfase em Economia da Saúde, Tanara coordena o Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trânsito e Álcool, que integra o Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas, órgão vinculado à UFRGS e ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O núcleo trabalha no monitoramento e na avaliação do projeto “Vida no Trânsito”, implantado desde o ano passado em cinco capitais brasileiras. A UFRGS é responsável pelo acompanhamento do projeto em Palmas (TO) e Teresina (PI), enquanto a PUC-PR companha Curitiba e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG) e Campo Grande (MS).
Em sua conferência durante o Congresso Internacional de Trânsito, na tarde desta quinta-feira (19) em Porto Alegre, Tanara afirmou que uma das maiores dificuldades para a implementação de políticas públicas de combate à violência no trânsito é a falta de dados confiáveis e aprofundados quanto aos principais fatores de risco para a ocorrência de acidentes. As bases de dados disponíveis no Brasil - do Ministério da Saúde, do Departamento Nacional de Trânsito e do seguro DPVAT - trazem informações muitas vezes divergentes entre si. “Fontes diferentes que não convergem podem propiciar políticas não tão bem direcionadas. O ‘Vida no Trânsito’ está mostrando o quanto as instituições precisam trabalhar de forma integrada”, afirmou Tanara.

Acompanhando as operações das equipes de fiscalização, o núcleo coordenado por Tanara já realizou três rodadas de levantamentos de dados em Palmas e duas em Teresina. A equipe de pesquisadores busca dados primários, sobre perfil das vítimas e hora, local e características dos acidentes de trânsito, e também trabalha no aprofundamento da análise sobre os fatores de risco, especialmente o consumo de bebidas alcoólicas e a velocidade.
A pesquisa já identificou os altos índices de alcoolemia nas vítimas fatais do trânsito de Palmas e Teresina. Outro fator importante é o horário da ocorrência dos acidentes, a maioria nas noites dos finais de semana. O objetivo é, com o avanço da pesquisa, refinar os dados sobre acidentalidade para identificar os principais fatores de risco, fazendo com que as ações de fiscalização sejam mais bem direcionadas.

“As bases de dados existentes são incompletas e de difícil acesso, sem informações sobre os fatores de risco. Isso é um desafio para as comissões qualificarem suas bases de dados”, destacou Tanara Sousa. Ela afirmou que o “Vida no Trânsito” pode contribuir para a solução deste problema. “A partir do estudo dos acidentes de trânsito, o projeto está caminhando para direcionar as políticas de forma eficiente. Para isso, é preciso termos dados que permitam essa análise. O importante é que isso seja rápido, para salvarmos mais vidas”, completou.

Tanara relatou que o trabalho de pesquisa já identificou alguns gargalos, como as brechas na legislação que impedem a correta punição dos condutores que dirigem alcoolizados. Para a pesquisadora, a combinação entre álcool e direção precisa ser combatida com punições rígidas que surtem, na opinião da pesquisadora, mais efeito que campanhas educativas para a população adulta.

Escalado como debatedor da conferência, o deputado federal Henrique Fontana (PT-RS), vice-presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Trânsito Seguro da Câmara Federal, defendeu a proibição da publicidade de bebidas alcoólicas nos grandes meios de comunicação, assim como aconteceu com o cigarro no Brasil.
“Não há justificativa para nós, que queremos criar uma outra cultura, aceitarmos que as novas gerações sejam submetidas a uma propaganda que, além de naturalizar o consumo de bebida alcoólica, ainda incentiva e liga o consumo a questões positivas e de sucesso”, criticou o deputado.

Daniel Cassol
de Porto Alegre