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Executiva da TAC encerra Congresso afirmando que é preciso coragem para reduzir acidentes no trânsito

19.07.2012 - 18:00
  • Foto: Fabio Nassif

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  • Foto: Janet Dore

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Janet Dore, executiva-chefe da Transport Accident Comission, órgão da província de Victoria, na Australia, encarregado dos seguros de acidentes de trânsito, encerrou o Congresso Internacional de Trânsito nesta quinta-feira (19), falando sobre as ações da TAC na redução de acidentes, mortes e lesões no trânsito. Ela ilustrou sua fala com diversos dos mundialmente famosos filmes produzidos pela TAC, conhecidos pelas imagens impactantes e as mensagens diretas que atacam as causas mais comuns das ocorrências nas ruas e estradas de todo o mundo.

Perguntada sobre o porquê dos vídeos serem muitas vezes chocantes, Janet aproveitou para dar um recado aos agentes de trânsitos e governos: “É preciso ter coragem. Quando a TAC mostrou seu primeiro comercial, em 1989, eram registradas quase 800 mortes no trânsito em Victoria, um estado pequeno do país, com menos de 6 milhões de habitantes. Em 2011, esse número havia caído para 278. Hoje sabemos que apenas através de mensagens fortes conseguimos que as pessoas se engajem nas campanhas e mudem suas atitudes diárias. No início, os governantes de Victoria ficaram temerosos, mas hoje nos apóiam completamente. Seguiremos trabalhando, porque o único número aceitável é zero”.

Janet esclareceu a área de atuação da TAC: “Além de uma agência de prevenção de acidentes, somos o órgão estatal que gerencia o seguro por acidentes terrestres e financia os serviços de atendimento de urgência e também hospitalares e de cuidados de longo prazo. Muitas das vítimas dos acidentes se tornam nossos clientes pelo resto da vida, e o custo disso é altíssimo. Um tetraplégico de 25 anos vai viver mais 40 ou 50 anos e os cuidados anuais com sua saúde chegam a A$ 1 milhão (em dólar australiano, equivalente aproximadamente a R$ 2 milhões). Por isso, eu sou uma CEO que quer que o seu negócio acabe. Quero não ter mais clientes”. A dirigente explicou ainda que a TAC surgiu após o governo de Victoria identificar que o sistema privado não estava funcionando, e deixava as pessoas desassistidas, com muitas dificuldades na hora de obter os seguros: “Nós agimos segundo um sistema de ‘apesar da culpa’. Tratamos todos os envolvidos nos acidentes de forma igual”.

Com orçamento anual de A$ 1,3 bilhão (arrecadados majoritariamente do seguro que cada dono de veículo paga anualmente) e mais de A$ 7 bilhões em caixa, Janet afirmou que a TAC gasta cerca de A$ 1 bilhão por ano com indenizações e tratamentos. O restante do dinheiro vai para o financiamento dos serviços de atendimento e resgate, projetos de segurança no trânsito e para as campanhas de educação na mídia. Quanto a essas campanhas, Dore garantiu que todos os filmes e ações estão fundamentados em dados retirados dos prontuários de acidentes, assim como de pesquisas diretas com os habitantes do estado, sendo analisados por estudiosos. Ela revelou que a TAC mantém uma Universidade em Victoria que se dedica apenas à segurança no trânsito.
“Nossos dados, depois de analisados, nos mostraram que o álcool é o grande fator de risco no trânsito, dai criamos a campanha Bloody Idiot” (Grande Idiota e/ou Idiota Sanguinário, em um jogo de palavras de duplo sentido em inglês). Essa expressão tornou-se comum entre os australianos e relaciona o ato de dirigir alcoolizado a uma tremenda estupidez, que resulta em muito sangue. “Lembro do horror dos nossos governantes com o uso de um palavrão no filme. Depois dessa campanha, os dados identificaram que grande parte da população considerava que o álcool só era risco quando a pessoa estava muito bêbada. Então, criamos a campanha Only a Litle Bit [só um pouco acima do limite], que mostrava que mesmo uma pequena quantidade de álcool acima do limite legal pode causar grande estrago”.
A seguir, Janet falou do excesso de velocidade, outro grande vilão no trânsito de Victoria: “Sobre o excesso de velocidade, criamos a campanha Don’t fool yourself, speed kills (Não se engane, a velocidade mata), que mostrava que muitas vezes trafegar apenas 5km/h mais lento pode fazer toda diferença entre a vida e a morte. Da mesma forma que com a campanha sobre o álcool, as pessoas apoiaram completamente a ação, mas também admitiam que excediam o limite de velocidade”. Por isso, Janet frisou que a apenas as campanhas publicitárias não resolvem. A segurança de trânsito deve ser feita nas ruas: “Nesses 20 anos de existência, a TAC financiou a compra de bafômetros, radares fixos e móveis, câmeras de flagrante de avanço de semáforo. Da mesma forma, criamos os ‘booze buses’ (ônibus da bebida), que são espaços educativos voltados principalmente para os jovens, onde eles podem inclusive fazer o teste do bafômetro. E lá é obrigatório fazer o teste. Não há saída!”.
Os jovens foram os alvos seguintes da TAC, já que são grande parte das vitimas: “Entre 19 e 25 anos, os jovens acumulam muitos fatores de risco ao dirigir, como a inexperiência, a distração, o sentimento de segurança pela idade e o uso de álcool e drogas. Nossa campanha teve o título Your mate’s life is in your hands (A vida do seu parceiro está nas suas mãos), e pediu aos jovens que fizessem filmes falando sobre o tema. A resposta foi impressionante. Nossas pesquisas mostraram que os jovens respondem muito mais quando a mensagem lhes chega através de seus iguais”, atestou Dore.
Janet Dore falou ainda do uso das redes sociais nas ações de segurança no trânsito, dando como exemplo uma campanha no Facebook: “Uma cidade de menos de 50 habitantes em Victoria, chamada Speed (Velocidade), se prontificou a mudar de nome por um mês para Speedkills (Velocidade mata) caso nossa página reunisse 10 mil curtidas. Conseguimos isso em apenas um dia. Até mesmo um morador desta cidade, chamado Phil Down (para baixo, para menos) se ofereceu para mudar seu nome para Phil Slowdown (Desacelere) se tivéssemos 20 mil curtidas... e conseguimos isso em uma semana”.
Para encerrar sua conferência, Janet Dore fez um apelo à platéia: “Vim aqui para ouvir. Só porque resolvemos ser ousados, não quer dizer que temos todas as respostas. Ouvi muita coisa boa aqui, que vou levar comigo. Nossas palavras precisam virar ações, pois são as ações que salvam vidas”.
Ivan Trindade
de Porto Alegre