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“A cegueira na auto-avaliação é um de nossos principais problemas”

18.07.2012 - 10:00
  • Presidente do Detran/RS, Alessandro. Foto: Fabio Nassif

  • Alessandro Barcellos. Foto: Fabio Nassif

  • Alessandro Barcellos. Foto: Fabio Nassif

Uma pergunta organizou toda a conferência do diretor-presidente do Departamento de Trânsito do Rio Grande do Sul (Detran/RS), Alessandro Barcellos, nesta quarta-feira, no Congresso Internacional de Trânsito: o que é capaz de salvar uma vida? Ele lembrou de uma viagem técnica feita a Europa, logo no início do atual governo, com o objetivo de conhecer pessoas e projetos que salvaram e seguem salvando vidas. “Essa viagem, aliás, foi uma de nossas principais iniciativas”, assinalou. “Nos impactamos ao conhecer que parecia ser impossível: é possível inverter a lógica perversa das estatísticas de acidentes de trânsito”. Essa percepção, enfatizou o dirigente do Detran gaúcho, passou a nortear o desenvolvimento e implantação de um conjunto de políticas no Rio Grande do Sul.

Essas políticas, relatou ainda Alessandro Barcellos, orientaram-se, entre outras coisas, pela concepção de que o papel de um departamento de trânsito não é meramente cartorial, de providenciar e administrar a emissão de determinados documentos, mas é principalmente ter a capacidade de reunir todos os atores envolvidos no tema da circulação. Com esse papel de elemento aglutinador, o Detran gaúcho, afirmou seu diretor-presidente, está procurando construir um novo olhar sobre a gestão do trânsito. Barcellos reconheceu a grande responsabilidade que pesa sobre os administradores encarregados dessa tarefa. O problema dos acidentes do trânsito chegou a patamares de uma verdadeira epidemia mundial, o que levou a Organização das Nações Unidas a estabelecer uma década pela segurança no trânsito com o objetivo de reduzir em 50% a taxa de mortes no trânsito até 2020.

A gravidade do problema, assinalou, exige que atuemos em diferentes frentes ao mesmo tempo. “Cada segundo dessa batalha é importante”. Uma batalha, apontou Barcellos, que envolve a mudança de vários paradigmas de educação e comportamento. “O indivíduo saudável busca preservar sua própria vida. Mas essa lógica desmorona quando vemos muitas dessas pessoas no trânsito. O que explica que pessoas aparentemente pacientes tornem-se agressivas quando estão dirigindo um automóvel? Elas serão vítimas de alguma patologia?” – indagou. A grande arma a ser utilizada nesta guerra, defendeu o diretor-presidente do Detran/RS, é a educação, “Educação com “E” maiúsculo”, destacou. “Essa educação não se limita à educação formal, envolvendo uma luta com princípios e valores onde haja oportunidade dela ser travada”.

A cegueira na auto-avaliação
Para ilustrar as dificuldades dessa luta e a natureza dos obstáculos a serem superados, Alessandro Barcellos referiu-se a uma pesquisa realizada pelo Detran-RS, segundo a qual, a população do Rio Grande do Sul considera, de modo geral, os motoristas gaúchos como agressivos e mal-educados. O dirigente do Detran gaúcho fez um teste com o público que assistia a sua conferência. “Quem aqui acha que o trânsito é violento?” – perguntou. Quase todos levantaram as mãos. “E quem se acha violento no trânsito?”. Desta vez, os risos foram bem maiores que as mãos erguidas. “Essa cegueira na auto-avaliação é um dos principais problemas que enfrentamos. Não há auto-crítica, só se aponta a falha do outro com uma lente de aumento. A culpa é sempre a imprudência e a imprecisão do outro”, apontou Barcellos.

Há um comportamento caricatural aí que deve ser enfrentado, acrescentou. “É o comportamento de quem critica os limites ao excesso de velocidade e diz que não faz nenhuma diferença andar a 90 km/h quando o limite é 80. É o comportamento também de quem acha que beber só um pouquinho não tem problema, ou que andar apenas alguns metros na contramão não faz mal algum. Precisamos romper o paradigma do “só um pouquinho não faz mal”.

Os primeiros resultados no Rio Grande do Sul
Após pouco mais de um ano e meio de implementação, o diretor-presidente do Detran/RS já comemora os resultados das políticas articuladas pelo departamento. Alessandro Barcellos destacou a importância da criação do Comitê Estadual de Segurança no Trânsito, coordenado pelo vice-governador Beto Grill, e da definição da Política Estadual de Trânsito, discutida previamente em plenárias regionais com diferentes setores da sociedade. Dois programas dessas políticas, a Operação Balada Segura e a Operação Viagem Segura, já apresentam resultados muito positivos.
A Operação Balada Segura, explicou, é uma ação transversal que conta com o trabalho de diversas instituições do Estado – como a Brigada Militar, a EPTC e a Polícia Civil, onde o Detran atua como um aglutinador de competências.
O objetivo é coibir a embriaguez no volante por meio de blitze educativas e de fiscalização realizadas durante as noites e as madrugadas. “Em um ano, já conseguimos uma redução de 33% no número de vítimas fatais”, comemorou Alessandro Barcellos, que anunciou: até o final do ato, essa operação será implantada em todos os municípios que têm fiscalização de trânsito.

Já a Operação Viagem Segura foi implantada nos pontos de maior ocorrência de acidentes no Estado nos últimos cinco anos. No último feriado de Páscoa houve uma redução de 46% no número de vítimas fatais em relação ao ano anterior.

Alessandro Barcellos atribui uma parte considerável do êxito desses dois programas à decisão de integrar competências e otimizar recursos. Além dessas operações, ele apontou ainda outras iniciativas como responsáveis pela melhoria dos indicadores: a criação de campanhas de comunicação voltadas para públicos específicos (como jovens e idosos), a ampliação do número de processos de suspensão do direito de dirigir e o combate à impunidade. O dirigente do Detran gaúcho reconheceu que ainda há muito por fazer e que essa é uma longa batalha. “Enquanto houver uma morte no trânsito que poderia ter sido evitada, a nossa luta continuará”, resumiu.


Marco Weissheimer
de Porto Alegre