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Ministério da Saúde aponta dificuldades em reduzir taxas de mortos e feridos no trânsito

18.07.2012 - 12:30
  • Consultora da Área Técnica de Vigilância e Prevenção de Violência e Acidentes do Ministério da Saúde, Cheila Marina de Lima

A consultora da Área Técnica de Vigilância e Prevenção de Violência e Acidentes do Ministério da Saúde, Cheila Marina de Lima, apresentou na manhã de hoje (18) no Congresso Internacional de Trânsito, em Porto Alegre, números preocupantes em relação à redução das taxas de mortos e feridos por acidentes com transporte terrestre no Brasil. “Apesar das ações já implementadas, o Brasil tem muitos desafios pela frente e nada a comemorar quando se fala em números”, afirmou Cheila. O evento é uma realização do Governo do Estado, por meio do Detran/RS, e marca os 15 anos do órgão executivo de trânsito.

Para a consultora, apesar da questão da prevenção de acidentes de trânsito ter entrado na pauta no Brasil até antes do que na pauta da Organização Mundial da Saúde, ainda é preciso trabalhar muito. A meta estabelecida pela OMS, de redução em 50% do número de mortos e feridos em acidentes em 10 anos, atinge os 10 países que mais registram mortos e feridos por acidentes com transporte terrestre.

Nessa lista de países que mais matam no trânsito, o Brasil está em quinto, uma posição nada confortável, segundo a avaliação de Cheila Lima. “Apesar do percentual de óbitos por número de veículos ter caído, o percentual de mortes por número de habitantes cresceu no Brasil nos últimos 10 anos”. Tais números têm um impacto importante inclusive na economia do País: “Uma vez que os grandes atingidos por esses acidentes são homens jovens, o PIB do país sofre com a perda de produtividade”, ressaltou. São as crianças entre 10 e 14 anos e os homens entre 40 e 49 anos os grupos populacionais mais atingidos pelos acidentes de trânsito.

“São 117 mortes por dia nas estradas brasileiras e em 2010 registramos 42.843 mortes, um aumento de mais de 5 mil casos em relação ao ano de 2009. Não estamos reduzindo e nem ao menos estabilizando os números”, alertou Cheila. A consultora apresentou também alguns dados que apontam mudanças no quadro de vulnerabilidade no trânsito brasileiro: “De 2000 para cá, os motociclistas se tornaram as maiores vítimas nas ruas e estradas, superando inclusive os pedestres. Em 2010, a taxa de morte de motociclistas no Brasil era de 5,7 casos para cada 100 mil habitantes”, demonstrou Cheila. Ela completou com outro dado alarmante: “De 2008 a 2011, houve um aumento de mais de 100% nos valores pagos pelas internações hospitalares para acidentados com motos. Em 2008 o SUS pagou R$ 45 milhões e em 2011 pagou R$ 98 milhões”.

Para a consultora do Ministério, apenas uma ampla ação integrada entre poder público em todas as esferas de administração e sociedade civil trará resultados sólidos na luta contra os acidentes de trânsito, assim como nas mortes e lesões. “Em Porto Alegre, por exemplo, o projeto Vida Urgente, da Fundação Thiago de Morais Gonzaga, tem papel vital na conscientização dos jovens e, segundo inquérito do Ministério, a Capital gaúcha registra o menor índice de casos de direção sob influência do álcool.”

O álcool e o excesso de velocidade são os principais fatores de risco no trânsito, segundo Cheila. Por isso, as cinco experiências piloto do programa “Vida no Trânsito”, uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), implantada no Brasil e em outros nove países, focaram suas ações no combate dos mesmos. “O Vida no Trânsito se iniciou em 2010 em cinco capitais: Belo Horizonte, Curitiba, Palmas, Campo Grande e Teresina. Ele conta com o apoio da Universidade de Johns Hopkins, nos EUA, e com análises de pesquisadores da UFRGS, PUC-PR e UFMG”, relatou Cheila. Considerado um sucesso, o programa que prevê a identificação dos fatores de risco no trânsito, monitoramento e análise das taxas de ocorrências e a elaboração de ações que reduzam o número de acidentes e as consequentes mortes e lesões, já foi expandido para todas as capitais do Brasil, segundo apresentou a consultora: “Em 2011, o governo federal liberou R$ 12 milhões para a implementação do Vida no Trânsito. Em 2012 serão mais R$ 12 milhões. Além disso, há disponível outros R$ 30 milhões para cidades não capitais que queiram desenvolver projetos afins”.

Cheila encerrou sua fala citando o tema do Congresso: “Precisamos pensar em ideias que salvem vidas. Ideias como o Código de Trânsito Brasileiro ou a Lei 11.705, a popular Lei Seca, que foram iniciativas que definitivamente salvaram vidas. O governo tem como prioridade montar um plano de segurança viária de 2011 a 2020. Se não conseguirmos trabalhar em conjunto, não conseguiremos atingir nossas metas. O Brasil tem diversas iniciativas isoladas que precisam ser integradas”. Ela também frisou a importância da participação da sociedade civil na conscientização da população. “A sociedade tem que trabalhar diariamente para um trânsito mais solidário e que priorize o transporte coletivo de qualidade. A sociedade civil tem um poder muito grande de mobilização e a sua participação dá mais credibilidade, alcance e velocidade na transmissão da mensagem e garante uma adesão maior da população.”

Ivan Trindade
de Porto Alegre